Emergência Climática Vida Sustentável

Hoje foi no Sul, amanhã onde será?

Em maio de 2024 o Rio Grande do Sul foi assolado por uma tragédia sem precedentes.

A chuva esperada para o mês inteiro caiu em 3 dias, o acumulado dos dias de maio de 2024 já é oito vezes maior do que o esperado para o mês de maio inteiro.

Dos 497 municípios gaúchos, 467 sofreram algum tipo de impacto causado pelas chuvas. São mais de 2,342 milhões pessoas afetadas, segundo dados da Defesa Civil.

Eu sou gaúcha, no momento vivo fora do Brasil, mas minha família toda esta lá. Por tudo que vejo nas redes sociais e do que minha família e amigos me contam, ainda é difícil entender o tamanho do estrago e do sofrimento.

Escrevo após 10 dias do inicio das notícias, ainda não temos muita ideia de qual foi o prejuízo, do número exato de mortes (cerca de 150, que até o momento não representam em nada o tamanho da tragédia) e quanto tempo vai levar pra reconstruir tantos lares e comércios.

Desde que as primeiras notícias foram chegando ao resto do Brasil, o povo se mobilizou de uma maneira contagiante, em trabalho voluntário, resgates de pessoas e de muitos animais, abertura de abrigos e doações, muitas doações.

De comida, de roupas e de água potável.

Quando falta água, percebemos o quão frágeis somos. A água que temos como garantida saindo da nossa torneira todos os dias, já não existia mais. O povo gaúcho dependeu de carretas e carretas de outros estados com água mineral para beber.

Eu sempre ouvi notícias que com o aumento do aquecimento global cidades inteiras sumiriam do mapa.

Eu só não achei que fosse a minha…


Os lugares que nos transmitiam paz de repente se transformaram em imagens lamacentas de terror e medo.

Meu sofrimento é ao ver as ruas que eu conheço completamente tomadas por água, tantos prédios históricos, o Mercado Público, a tão linda e rosada Casa de Cultura Mário Quintana, a orla do Guaíba que recebe famílias aos finais de semana contemplando o pôr do sol enquanto compartilham numa roda de chimarrão. Lugares que eu amo estar e fiz questão de visitar na minha última visita ao Brasil no início desse ano.

Tento me colocar no lugar das pessoas desabrigadas, vivendo como moradores de ruas. Famílias que tinham suas casas, seu trabalho e sua rotina, e hoje vivem de doações e da boa vontade alheia, com ainda pouca esperança e ideia de como vai ser “a volta pra casa”, para aqueles que ainda tem casa…

Eu, que me encontrei profissionalmente como Personal Organizer, uma especialista em organizar lares, tornar os ambientes mais otimizados e as tarefas eficientes, venho encontrando mais sentido atualmente em falar mais sobre o nosso Planeta, nossa verdadeira casa, o lar em que todos compartilhamos e precisamos cuidar.

Ensinar como fazer as dobras perfeitas, ou organizar o closet por paleta de cores me parece tão supérfluo em situações como essa. Tem pessoas que perderam tudo, o que elas menos precisam agora é de perfeccionismo e impecabilidade, elas estão tentando retomar a sua dignidade, e definitivamente a dignidade de ninguém vem de quantas coleções de bolsas de marca você tem.

Cada vez mais o excesso me incomoda e o desperdício me deixa triste.

Já trabalhei muito em mim a crença de que a abundância está disponível para todos, se um tem muito não quer dizer que está tirando do outro, eu aprendi. Talvez isso até tenha valido há algum tempo atrás, em que éramos menos numerosos, mas num mundo de 8 bilhões de pessoas, um só Planeta, acredito que possuir coisas em Excesso é sim tirar do outro, é explorar recursos finitos do nosso planeta, que se não forem cuidados não terão tempo suficiente da regeneração.

A palavra que escolhi para o meu ano de 2023 foi SUSTENTABILIDADE. Com ela tive novos insights e inclusive mudei um pouco a minha linguagem aqui no blog e nas redes sociais. Sustentabilidade tem o sentido de “garantir o desenvolvimento de hoje sem comprometer o amanhã”.

Acontece que essa palavra já está ultrapassada diante da Crise Climática que estamos vivendo. O amanhã já foi comprometido. Precisamos inserir outras duas palavras no nosso vocabulário: REGENERAÇÃO E ADAPTAÇÃO.

Eu já li e estudei muito sobre sustentabilidade, que agora entendo, chega a ser uma maneira romântica e inocente de falarmos sobre o Planeta Terra nos dias de hoje. Enquanto a sustentabilidade se concentra em manter um equilíbrio estável, a regeneração restaura ecossistemas que foram degradados ao longo do tempo.

Nós sempre defendemos que o planeta é inteligente o suficiente para se regenerar sozinho, alguns falam em uma nova era glacial, e talvez até seja, em alguns milhões de anos. Mas e nós? E os próximos 10, 20 anos? O amanhã!

Os estragos JÁ foram feitos, já não há equilíbrio e há muitos e muitos anos estamos vivendo em total desequilíbrio e desconexão com a natureza.

Só estaremos ainda aqui se começarmos a pensar cada vez mais e mais rápido em ADAPTAÇÃO.

“Temos de acelerar a transformação e passar de abordagens de mitigação dos impactos negativos, para uma abordagem de incremento dos impactos positivos”, dizem Manuela Pintado e Luís Rochartre Álvares, em artigo do Publico.pt

Regenerar é preciso, mas não é sobre esperar que o mundo se recupere sozinho enquanto seguimos com nossos hábitos destrutivos. Regenerar é criar novas alternativas que alinhem às necessidades do planeta e o permita respirar de novo ‘à plenos pulmões’.

Adaptar é encontrar novas soluções para cidades, novas tecnologias e novas formas de viver em um mundo que já foi destruído por nós, seres humanos. Ansiamos tanto o progresso e o lucro acima de tudo, que chegamos onde chegamos.

É preciso PENSAR GLOBALMENTE E AGIR LOCALMENTE.

Para ser honesta, ando muito pouco otimista em relação ao que ainda pode melhorar e reverter. Ouvi cientistas suficientes pra entender que já ultrapassamos todos os limites saudáveis possíveis da Terra…

O Acordo de Paris assinado em 2015, por praticamente todos os 195 países do mundo, tinha tudo para nos dar esperança. O mundo inteiro concordou em diminuir as taxas de emissão de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global (o tão falado limite de 1,5°C) , e foi aplaudido com muito entusiasmo na altura na Conferência da ONU (COP21). Porém, em realidade em 2024, o cenário que vemos é outro.

2023 foi o ano mais quente da história desde que se há registros.

Para atingir as metas do Acordo, o Brasil se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para cerca de 18% até 2030, chegar a uma participação de 45% de energias renováveis na composição da matriz e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas.

Trechos do artigo no site da ONU:

Em termos percentuais, o mundo precisa reduzir as emissões de 2030 em 28% para estar no caminho certo para atingir a meta de 2°C do Acordo de Paris, com uma probabilidade de 66%, e uma redução de 42% para a meta de 1,5°C.

Se todas as metas e os compromissos de zero emissões líquidas de carbono de longo prazo fossem cumpridos, limitar o aumento da temperatura a 2°C seria possível. No entanto, atualmente, os compromissos de zero emissões líquidas de carbono não são considerados críveis: nenhum dos países do G20 está reduzindo as emissões a um ritmo consistente com as suas metas de zero emissões líquidas de carbono. Mesmo no cenário mais otimista, a probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5°C é de apenas 14%.


Muito pouco foi feito e muito pouco parece preocupação dos governantes que supostamente assinaram esse acordo.

Mas ainda estamos aqui, afinal.

Os próximos 10 anos serão cruciais nessa luta e determinarão se existirá ou não um futuro para a nova geração.

Se tivermos 100 ou 10 anos pela frente, ainda temos que tentar o que estiver ao nosso alcance.

Tenho plena confiança de que, apesar de tudo, podemos fazer melhor. Eu e você, e consequentemente grandes empresas e governos, que são elegidos por mim e você.

Encontrar e aperfeiçoar a geração de energia limpa, implementar a economia circular e a economia colaborativa, promover a recuperação de solos, estimular a conservação da biodiversidade, adotar o reuso da água, aplicar a agricultura regenerativa, encontrar soluções baseadas na natureza e discutir resiliência climática, tudo está interconectado.

Estas são só algumas das palavras-chave que precisam fazer cada vez mais parte do nosso dia a dia e das nossas decisões. Somos todos ambientalistas!

A CRISE climática já mudou de nome e é agora chamada de EMERGÊNCIA CLIMÁTICA. Estamos correndo contra o tempo, com um relógio-bomba tilintando.

Mais situações como essas do Rio Grande do Sul, de Brumadinho, do Quênia, de Dubai, do Texas… vão acontecer, cada vez mais perto de você, e é só uma questão de tempo.

Porto Alegre vai se reconstruir, as consequências não foram tão destruidoras como outras cidades do Estado que foram completamente devastadas e viraram cidades fantasmas. O povo gaúcho é forte, a maioria descendente de imigrantes italianos e alemães, que com certeza saíram de suas terras em situações muito difíceis há décadas atrás, e deles herdamos o sangue de luta, reconstrução e recomeço.

Rio Grande do Sul, eu estou contigo. ♡

Abaixo indico algumas pessoas e instituições que confio e recomendo para você apoiar:

Adotche RS & Somos Alento: @adotche.rs | Grupo de brasileiras em Portugal arrecadando fundos para comunidades das ilhas do Guaíba e do Quilombo dos Machados. | doações pelo link do apoia.se.

CUFA – Central unica das Favelas: @cufars | doações através do pix doacoes@cufa.org.br

Adrenalina Club: @adrenalina.club | Grupo de voluntários de Florianópolis/SC que estão coletando doações e enviando para os abrigos no RS. | doações através do pix 06161789990 Luis Felipe

Meu Lar de Volta: @meulardevolta | Time de voluntários para colaborar na faxina e retomada da rotina das famílias desabrigadas.

A cara do PIX: @acaradopix | Apadrinhe uma família doando diretamente pra quem precisa. Nesta conta você vai conhecer pessoalmente a história de cada um e contribuir como quiser.

Mãos à obra: @maos_a_obrars | Grupo de arquitetos focados em acelerar o retorno das famílias atingidas pela enchente, através de “kits de retorno” em diferentes valores.

Greenpeace Brasil: @greenpeacebrasil | Os recursos arrecadados serão destinados a compra e entrega de suprimentos emergenciais (como alimentos e água para populações impactadas); financiamento de cozinhas solidárias, compra de canudos filtráveis em parceria com o Projeto Saúde e Alegria.

Sempre importante lembrar que quando você fizer o pix, verifique o nome do titular da conta se é mesmo a pessoa pra quem você quer enviar. Como sabemos, infelizmente muitas pessoas se aproveitaram disso e fizeram montagem com diferentes números de pix para benefício próprio.

Claro que tem muuito mais, graças à Deus, surgiram muitas iniciativas nesse período de necessidade do Rio Grande do Sul. Faça como puder, contribua com o que puder para quem se sentir chamado, e siga ajudando! <3

Renata Cunha

Renata atua como Personal Organizer desde 2015, é obcecada por listas e cestinhos organizadores. Busca uma vida mais leve de menos cobrança e controle, equilibrando organização na medida certa, uma boa dose de minimalismo e desapego, e muitas pausas e respiros para a auto consciência.

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